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Saga - As Ilhas das Dádivas e das Perdições

  • Foto do escritor: Flávia Adriana
    Flávia Adriana
  • 1 de nov.
  • 11 min de leitura

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SUMÁRIO

Parte 04 - Em breve



Parte 01 - Kardy e suas dádivas, o início

Existe uma parte da história do mundo que ainda não foi contada, mas eu decidi compartilhar com vocês. Antes da magia ser fechada por completo aos humanos, havia dentre os seres mágicos o mais conhecido, chamado Kardy. Ele era um ser dotado de muitas dádivas.

Kardy tinha um rosto em formato de chamas, seu corpo era fluido ao mesmo tempo que estava sempre vibrando. Ele tinha várias camadas de cores, mas as cores não se confundiam. Era possível visualizar cada camada vibracional. Ele tinha um sorriso doce e estava sempre sorrindo.

Eras atrás, os seres humanos não possuíam qualquer magia, então Kardy corria as terras utilizando seus poderes para contribuir com o progresso do mundo. Auxiliava nas construções, nos conflitos, em ideias e tantas outras atividades que estava exausto.

Um dia, enquanto sobrevoava os humanos, teve a ideia de presenteá-los com suas dádivas. Acreditou que os humanos iriam utilizar bem os poderes para continuar evoluindo o mundo, tornando-o cada vez melhor para todos os seres.

Kardy percebeu que um único humano seria incapaz de suportar todos os seus poderes. Dessa forma, ele optou por dividir suas dádivas em partes iguais de potencialidade, mas com habilidades e possibilidades diferentes. Assim, cada humano possuiria apenas uma dádiva.

Suas dádivas sendo divididas igualmente, mas, em conjunto, formariam a totalidade. Dotado dessa confiança, Kardy sobrevoou os povos dispersando seus raios de cores durante o sono dos humanos, em apenas uma noite.

Ao amanhecer, tudo estava diferente. Para surpresa de Kardy, os humanos tornaram-se seres duais. Cada dádiva despertou também uma perdição.

Ele acreditava que os humanos seriam transformados em seres totalmente puros e mágicos. Esta era uma lei desconhecida para Kardy, no mundo físico havia uma dualidade intrínseca e imutável, a vida se expressa em pares de opostos.

Agora os humanos tinham poderes mágicos, mas também perdições sombrias. Além disso, o seu aspecto físico havia mudado de acordo com os dons que captaram.

Ao despertar, todos estavam conscientes do que havia acontecido, o mundo acordou alegre no primeiro dia.

Os humanos saíram de suas casas contando a boa nova e se maravilhando com as dádivas dos demais. Apenas Kardy estava recluso, inconsolado pelo que havia acabado de fazer. Não teria mais volta, os humanos estavam à mercê de si mesmos.

A euforia humana durou pouco, logo se desentenderam entre si. Então, tomados pelas perdições de suas dádivas, decidiram juntar seus iguais e formarem comunidades separadas.

Encontram um belíssimo lugar no oceano, um arquipélago com várias ilhas possivelmente habitáveis. Com o tempo, cada comunidade dominou uma ilha, formando as Ilhas das Dádivas e Perdições.

Após alguns séculos, foram habitadas no total de nove ilhas. Cada ilha refletia apenas uma dádiva dividida de Kardy.

De forma geral, havia pouco contato entre elas. Algumas comunidades realizavam trocas entre si, mas outras viviam em conflitos e guerras iminentes. Uma coisa era certa: não havia casamento ou amizade entre ilhas diferentes. Os filhos herdavam os poderes dos pais, mas não havia relações profundas fora de cada ilha. Tudo isso aconteceu de forma natural, sem regras ou proibições, apenas guiados pelo sombrio em si.

Os humanos acessavam um pouco de suas dádivas, mas em sua maioria, estavam guiados por suas perdições. E, assim, permaneceram por muitos séculos, enquanto Kardy tentava consertar o que havia feito.

Ele sonhava em retomar a convivência de todos e ensiná-los a utilizar as dádivas em sua plenitude. E, principalmente, como identificar as perdições. Todos conheciam a origem de seus poderes, mas ignoravam. Estavam tão cheios de si, que não havia espaço para mais nada.

Enfim, chegamos na minha história, meu nome é VanyLux e sou originária da ilha de Vanitas. E vou contar para vocês a minha travessia pelas ilhas, a pedido de Kardy.

Não era mais tão comum o contato constante de Kardy com os humanos, haviam relatos, mas ninguém mais o esperava. Ele, aos poucos, estava virando apenas história.

Um dia, eu estava me preparando para uma competição esportiva, quando Kardy apareceu no meio do campo, de repente. Levei um susto e caí no chão. Imediatamente, Kardy me ajudou a levantar e pediu desculpas pelo inconveniente. Disse que precisava conversar comigo para pedir minha ajuda:

- Eu te ajudar?

- Sim, tenho algumas missões e sei que você é a pessoa certa para elas. Mas vou precisar de sua total dedicação. Sua vida será guiada por essas missões, a partir de agora!

Eu tinha muita coisa a perder naquele momento, mas aceitei de imediato o pedido daquele que nos concedeu suas dádivas. Parecia mais importante do que qualquer coisa que eu havia feito na vida. Eu não estava de toda errada, mas não foi nada do que eu poderia imaginar.


Parte 02 - A Ilha de Vanitas

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Quando Kardy apareceu, eu estava me preparando para uma competição de cutelaria. A competição consistia em produzir espadas; aquelas que produzissem as melhores lutariam entre si. Assim, a vencedora era uma mistura de melhor cuteleira e espadachina.

Eu era uma das favoritas; havia ficado dentre as melhores por anos seguidos. Mas, naquele ano, eu estava me preparando para ser a vencedora de todos os desafios.

Apesar de ser uma atividade de lazer, eu estava imbuída de ganhar e não ficar apenas entre os primeiros. Além disso, eu tinha acabado de ganhar uma função nova no meu trabalho e estava conhecendo um rapaz muito interessante.

Mas o chamado de Kardy despertou um desejo que eu não conhecia ainda, era algo misterioso, mas parecia que era exatamente o que eu precisava.

Kardy pegou em minha mão e disse que faríamos um passeio pela ilha de Vanitas, a minha. Ambos de maneira invisível. Ele disse que abriria meus olhos para uma outra realidade, para que eu pudesse ver a minha morada de outros prismas. Assim como o peixe no oceano, que não sabe o que é a água.

Visitamos a minha infância, eu me vi criança recheada de interesses, extrovertida e autêntica. Assim, meus pais possibilitavam que eu explorasse todos e sempre diziam: “Filha, você precisa descobrir no que você tem talento. E este será seu propósito. Quando descobrir dedicará toda a sua vida a isso. Evoluindo a cada dia.”

Os meus pais eram extremamente dedicados a tudo, inclusive a mim. A rotina da casa começava cedo e finalizava no meio da noite. Fazíamos muitas atividades e, ao final da semana, nos reunimos para conversar sobre realizações e pontos de melhoria. Havia um quadro na sala controlando todas as nossas metas pessoais, reprogramadas a cada semana.

Segurando a mão de Kardy, comecei a achar esse cenário estranho, meu corpo estremeceu e veio uma angústia que apertava meu coração. “Isto é normal, VanyLux. Você está começando a criar mais consciência de tudo!”

Em um segundo estávamos na entrada da Ilha. Era uma entrada bastante protegida de invasões ou ataques, mas com um portão imponente, alto e tecnológico. Eram projetadas notícias da ilha, novos empreendimentos, vencedores dos campeonatos. Ao redor da ilha havia vários outdoors com a mesma temática. Era possível ser visto por qualquer um que passasse por perto.

Comecei a andar pela correria da cidade e olhava tudo de maneira assustada. Como se fosse a primeira vez, mas de uma maneira mais lúdica.

Todos estavam correndo para algum lugar, mas parecia que não sabiam onde queriam realmente chegar. Eles pareciam ratos de laboratório, girando e girando e cada vez mais rápido, para lugar nenhum.

Os prédios e casas eram bonitos, principalmente a fachada. Havia um local central dedicado ao trabalho e um local de moradia. Ao andar pela parte central, era um espetáculo de performances de todos os tipos. Havia os construtores que voavam no ar construindo os prédios, os reformadores decorando e letreiros digitais para todos os lados.

Era comum nos locais ter algum lugar de destaque para os melhores do mês, em qualquer tipo de atividade. No centro, ficavam os mais dedicados e comprometidos com o progresso da ilha. E conseguiam.

No centro, também era possível se especializar em qualquer coisa útil para a Ilha. As bibliotecas eram recheadas de livros como manual de instruções, guias práticos ou algo que mostrasse algum caminho. Nada além disso. Não havia espaço para algo que não fosse considerado útil.

Tangenciando o centro, tinham as escolas esportivas que eram muito veneradas. Muitos eram atletas profissionais ou exerciam algum tipo de esporte por lazer. Mas sempre tinham campeonatos, sejam profissionais ou amadores.

A ilha não parava, 24 horas de vida. Muitos nem queriam dormir, mas era necessário. As luzes do centro sempre acesas, com os trabalhos diurnos e noturnos. Era uma ilha admirável pelo seu funcionamento, praticidade e progresso.

As crianças, assim como eu, eram direcionadas pelos pais para encontrarem o seu talento para ser útil e viver por isso. Lutar por isso e, principalmente, ser o melhor dentre os melhores.

Começamos a caminhar e ficar distante da cidade, alcançamos um local silencioso e que eu tinha ouvido falar sempre de maneira pejorativa. Às vezes, em tom de ameaça pelos meus pais e amigos. “Cuidado hein, você pode parar em Deficio!”.

Ao entrar percebi um contraste, o local era mais calmo. As pessoas andavam mais lentas e tristes, pareciam exaustas. Olhos esbugalhados, olheiras enormes e descabelados. Totalmente diferentes das pessoas da cidade principal, com seus estilos impecáveis.

As casas eram todas térreas e abertas, você via as pessoas nos sofás e cadeiras, paradas olhando para o nada. Ou se distraindo com jogos e alucinógenos. A maioria morava sozinho.

Esse era o local daqueles que não eram os melhores em nada ou que nunca conseguiam ser bom o suficiente para a ilha. Aqueles que perderam tudo em algum momento e não conseguiam se reerguer. E, também, daqueles que se sentiram exaustos e não aguentaram mais o ritmo de trabalho e dedicação que temos no centro ou no ciclo de atletas.

Olhei para tudo aquilo com profunda tristeza e chorei. Eu nunca havia chorado na vida e senti vergonha de todos os julgamentos e medos que me afastavam desse local. Boa parte da minha vida, eu vivi com pavor de ser banida naturalmente para Deficio. Era uma das piores coisas que poderia acontecer na vida.

Os seus familiares não querem saber de você, você passa a ser um excluído do meio. Isolado ao seu próprio fracasso. Um inútil.

- Vanylux, eu sei que esse processo é doloroso, mas será necessário para sua missão. Todas as dádivas carregam perdições...

- Estou profundamente impactada com tudo, principalmente com Deficio. Vejo como nossa perdição a incapacidade de parar, obsessão pelo sucesso, competitividade tóxica e agora estou com dificuldade de saber o que sinto.

- Essa é outra perdição, não saber o que sente... A grande dádiva de Vanitas é ter o poder de realizar o que quiser, mas sua perdição é não saber o que quer. Vocês correm para lugar nenhum, alcançam e constroem e sempre pensam na próxima conquista. A ilha de vocês é a mais desenvolvida, determinada, tudo funciona perfeitamente, mas possuem um vazio profundo.

- Deficio é o nosso maior medo.

- Sim, mas também a libertação. Só vivenciando Deficio, você conseguirá lidar com as suas dádivas e perdições. Deixarei você aqui por hora, sua primeira lição é essa. Viva o seu Deficio!

Eu estava apavorada quando Kardy desapareceu. Eu vi uma casa que estava com meu nome, corri para me esconder e tentar entender como sair o mais rápido possível de Deficio.


Parte 03 - Fugindo de Deficio


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Ao entrar na casa, meu corpo foi ao chão. Minhas costas ficaram coladas ao solo, meus pernas fixas e minhas mãos pesadas. Eu não conseguia me mexer, apenas olhar para o teto. Lágrimas douradas começaram a escorrer dos meus olhos.

Quando as lágrimas escorriam, lembranças da minha vida passavam em minha mente. Momentos de dores, angústias, inseguranças e fracassos. Tudo que eu havia evitado sentir estava transbordando. Eu não tinha mais controle de nada.

Aos poucos, um poço dourado e brilhoso foi se formando ao meu redor, deixando meu corpo mais leve e descolando minhas costas do chão. Consegui me movimentar, olhar para a casa que eu estava. Antes de entrar parecia cinza chumbo, mofada... Ela estava mais clara, tons de bege e iluminada.

Sentei-me, ainda no chão, recolhendo minhas pernas e respirando profundamente. Ainda atordoada com o que havia acontecido.

Levantei-me lentamente e fui andando pela casa, reconheci objetos que representavam tentativas que eu abandonei. Uma pintura pela metade, uma harpa, sapatilhas de ballet jogadas ao chão e tantas outras atividades que eu abandonei porque não despertaram um talento nato.

O tempo parecia que passava diferente em Deficio, era como se eu não tivesse compromisso nenhum me aguardando. Eu apenas pintei, toquei, dancei e naveguei por esse universo de atividades e habilidades. Eu apenas me diverti, feito criança.

Quando me olhei no espelho, levei um susto. Minhas roupas haviam sido transmutadas. De uma armadura marrom cobreado, estava trajada de um vestido amarelo que parecia voar sozinho em alguns momentos, tamanha leveza. Havia pequenas borboletas e vagalumes ao redor, sutis e delicadas.

Olhei para o lado e vi a entrada da casa, mas não consegui enxergar o exterior. Caminhei tranquilamente para a saída e lembrei da minha chegada desastrosa. Ao passar pela porta reconhecia a névoa densa que estava quando cheguei. Observei as pessoas e comecei a caminhar, eu parecia invisível neste lugar.

As mesmas pessoas ainda andavam lentas e tristes, pareciam exaustas. Olhos esbugalhados, olheiras enormes e descabelados. Mas conforme eu ia caminhando, o cenário mudava, a névoa acinzentada dava espaço para um lugar mais claro, céu limpo e uma paisagem bucólica ampla.

As casas eram mais alegres, as pessoas andavam animadas, as roupas pareciam com a minha, lúdicas e leves, coloridas e brilhosas. As pessoas pareciam ocupadas, mas diferentes do centro da cidade, não tinham desejo de chegar em lugar nenhum.

Quem estava pintando, apenas pintava. Quem estava dançando, dançava. Quem estava consertando alguma coisa, consertava. Tinha muita coisa que eu não sabia o que era:

- Com licença, o que é esse lugar tão bonito e silencioso?

- Este é o templo de Veritas. Local que paramos para olhar para o que sentimos, pensamos e somos. Tudo em silêncio e contemplação.

Eu agradeci e fiquei horas do lado de fora. Eu nunca tinha ouvido falar. As pessoas saiam do local com um aspecto mais brilhoso ainda.

Era um pedaço da ilha que eu não conhecia e totalmente diferente do que haviam me falado. Eu estava tão inebriada que esqueci completamente de Kardy e de como eu havia chegado ali.

Eu vivia dançando, pintando e meditando no templo. Estava apenas vivenciando o momento presente e fazendo as atividades em comunidade, de forma colaborativa. Eu havia achado o meu lugar e nada mais importava.

- Olá, VanyLux!

- Kardy! Quero muito agradecer por você ter me trazido aqui, no começo foi difícil, mas eu nunca estive tão plena e feliz!

- Sinto te dizer, Vany! Que este é apenas um pequeno pedaço da sua jornada!

- Como assim? Estou confusa agora, não quero ir embora daqui! Por favor, não!

- Você poderá visitar sempre que quiser e levará com você todos os ensinamentos que teve aqui tão intensamente. Você lembra quando chegou e havia aquela névoa escura? Muitos nem atravessam aquela parte, ficam perdidos para sempre em seus medos e ressentidos com o que chamam de fracasso.

- Nossa, então como eu consegui tão rápido?

- Eu estou com você o tempo todo! Mas nem sempre posso aparecer, você precisa atravessar certas tempestades sozinha... E você conseguiu. Só é possível conhecer as benesses de Veritas, quando atravessamos os medos do fracasso, das emoções e de quem realmente somos.

- Mas então essa não é também uma dádiva? E os medos são nossas perdições?

- Também, tem muito mais coisas. Você acessou uma parte, o grande medo da Ilha de Vanitas é o medo do fracasso, de não ser um sucesso! Mas quando atravessam esses medos, entram em contato com a verdade interior, quem são e com a paz. Isso é ótimo! Mas precisamos ir além, até mesmo disso...

- Devo confessar que quando você apareceu foi fácil abandonar tudo, talvez nunca houvesse me sentido eu mesma. Aqui é diferente!

- Como eu disse, você vai levar Veritas com você o tempo todo. Peço que confie em mim, um dia você vai entender. Com esse aprendizado em seu coração, você vai conseguir realizar as missões que tenho para você...

- Eu cheguei aqui querendo fugir e agora ficarei com saudades!

- Leve com você! Agora sim, vamos conhecer algumas dádivas e perdições da Ilha de Vanitas, antes de seguirmos para as outras ilhas...

- As outras ilhas? O que farei nelas?

- Uma coisa de cada vez...


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Este trabalho é de autoria de Flávia Adriana.  Nenhum tipo de inteligência artificial (IA) foi utilizada na criação deste texto.

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