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O Mergulho de Narciso

  • Foto do escritor: Flávia Adriana
    Flávia Adriana
  • 26 de jul.
  • 2 min de leitura

Atualizado: 27 de jul.

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Muitas pessoas comentam o quanto me acham forte, não sei dizer se sou ou não. É sempre um conceito bem abstrato quando alguém diz algo sobre a gente, é um olhar de fora que às vezes bate, outras não faz o menor sentido.

 

Eu não me considero forte, mas tive que ser em muitos momentos e, talvez, a essência desses momentos tenha perdurado a ponto de perceberem, a ponto de formar uma capa ou uma imagem.

 

Essa imagem é como Narciso que se olha no reflexo do rio e se apaixona por si mesmo. Apenas se apaixona porque não mergulhou profundamente, fixou-se à imagem. Essa imagem não deixa de ter um pouco de realidade, mas não é o todo. Assim como eu ser uma pessoa forte é apenas o reflexo no rio, que muda com o simples balançar das ondas.

 

Por hábito ou comodismo, ficamos presos em certas imagens, sejam elas nossas ou dos outros. É mais fácil acreditar que eu sou a forte, que fulano é o engraçado e beltrano o irresponsável. Você sabe o que esperar de cada um, a sociedade sabe o que esperar de cada um, e você sabe o que esperar de si mesmo.

 

Quando essa corrente se quebra e vemos o forte chorar, o engraçado perder a compostura e o irresponsável acertar, é como se o nosso mundo quebrasse também.

 

Eu tive que ser forte para lidar com questões da minha infância, mas me pergunto: a que preço?

 

Durante muito tempo carreguei certas bandeiras que hoje não carrego mais, nem quero; ficaram pesadas e sem sentido. Deixei de lado a bandeira do ‘eu dou conta de tudo’, ‘eu aguento qualquer coisa’, ‘vou ajudar a todos’, ‘vou proteger a todos’ e outras tantas que fui deixando pelo caminho, mas descobri outras que as sustentavam.

 

Descobrir a si mesmo é o mergulho que Narciso não fez, é atirar-se sem saber onde vai chegar, algo necessário, mas doloroso em muitos momentos.

 

Por trás da força, havia uma parte insegura, insatisfeita e com um grande sentimento de não ser o suficiente. Para nada. Para ninguém.

 

Por muito tempo acreditei que essa ânsia seria por uma vida não vivida, mas percebi que tudo isso transcendia qualquer sentimento juvenil mal resolvido.

 

A ânsia, a angústia, a ansiedade e tantos outros 'as...' são inerentes à condição humana. Alguns fogem, outros enfrentam. Cada um no seu caminho e na sua forma.

 

No meu caso, era um chamado para esse mergulho em si mesmo, como em uma poesia que escrevi, não sei quando:


“Quase me afoguei em suas neuroses

Saltei a tempo

Aprendi que é grande o risco de se afogar

Quando mergulhamos em mares alheios


Mergulhe em si”

 

Mas, ainda assim, é uma mistura de superficial e profundo, um Narciso na beira e um Narciso que mergulha.




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 Este trabalho é de autoria de Flávia Adriana©

 Nenhum tipo de inteligência artificial (IA) foi utilizada na criação deste texto.

 É proibida a utilização, total ou parcial, sem autorização expressa da autora.

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