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Fugindo de Deficio - Conto 03

  • Foto do escritor: Flávia Adriana
    Flávia Adriana
  • há 2 dias
  • 4 min de leitura

 

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*Este conto faz parte da série: As Ilhas das Dádivas e das Perdições. É uma continuação dos contos (recomendamos leitura prévia):

 

 

Ao entrar na casa, meu corpo foi ao chão. Minhas costas ficaram coladas ao solo, meus pés fixos e minhas mãos pesadas. Eu não consiga me mexer, apenas olhar para o teto. Lágrimas douradas começaram a escorrer dos meus olhos.

Quando as lágrimas escorriam, lembranças da minha vida passavam em minha mente. Momentos de dor, angústia, insegurança e fracassos. Tudo que eu havia evitado sentir estava transbordando. Eu não tinha mais controle de nada.

Aos poucos, um poço dourado e brilhoso foi se formando ao meu redor, deixando meu corpo mais leve e descolando minhas costas do chão. Consegui me movimentar, olhar para a casa que eu estava. Antes de entrar parecia cinza chumbo, mofada... Ela estava mais clara, tons de bege e iluminada.

Sentei-me, ainda no chão, recolhendo minhas pernas e respirando profundamente. Ainda atordoada com o que havia acontecido.

Levantei-me lentamente e fui andando pela casa, reconheci objetos que representavam tentativas que eu abandonei. Uma pintura pela metade, uma harpa, sapatilhas de ballet jogadas ao chão e tantas outras atividades que eu abandonei porque não despertaram um talento nato.

O tempo parecia que passava diferente em Deficio, era como se eu não tivesse compromisso nenhum me aguardando. Eu apenas pintei, toquei, dancei e naveguei por esse universo de atividades e habilidades. Eu apenas me diverti, feito criança.

Quando me olhei no espelho, levei um susto. Minhas roupas haviam sido transmutadas. De uma armadura marrom cobreado, estava trajada de um vestido amarelo que parecia voar sozinho em alguns momentos, tamanha leveza. Havia pequenas borboletas e vagalumes ao redor, sutis e delicadas.

Olhei para o lado e vi a entrada da casa, mas não consegui enxergar o exterior. Caminhei tranquilamente para a saída e lembrei da minha chegada desastrosa. Ao passar pela porta reconhecia a névoa densa que estava quando cheguei. Observei as pessoas e comecei a caminhar, eu parecia invisível neste lugar.

As mesmas pessoas ainda andavam lentas e tristes, pareciam exaustas. Olhos esbugalhados, olheiras enormes e descabelados.  Mas conforme eu ia caminhando, o cenário mudava, a névoa acinzentada dava espaço para um lugar mais claro, céu limpo e uma paisagem bucólica ampla.

  As casas eram mais alegres, as pessoas andavam animadas, as roupas pareciam com a minha, lúdicas e leves, coloridas e brilhosas. As pessoas pareciam ocupadas, mas diferentes do centro da cidade, não tinham desejo de chegar em lugar nenhum.

Quem estava pintando, apenas pintava. Quem estava dançando, dançava. Quem estava consertando alguma coisa, consertava. Tinha muita coisa que eu não sabia o que era:

- Com licença, o que é esse lugar tão bonito e silencioso?

- Este é o templo de Veritas. Local que paramos para olhar para o que sentimos, pensamos e somos. Tudo em silêncio e contemplação.

Eu agradeci e fiquei horas do lado de fora. Eu nunca tinha ouvido falar. As pessoas saiam do local com um aspecto mais brilhoso ainda.

Era um pedaço da ilha que eu não conhecia e totalmente diferente do que haviam me falado. Eu estava tão inebriada que esqueci completamente de Kardy e de como eu havia chegado ali.

Eu vivia dançando, pintando e meditando no templo. Estava apenas vivenciando o momento presente e fazendo as atividades em comunidade, de forma colaborativa. Eu havia achado o meu lugar e nada mais importava.

- Olá, VanyLux!

- Kardy! Quero muito agradecer por você ter me trazido aqui, no começo foi difícil, mas eu nunca estive tão plena e feliz!

- Sinto te dizer, Vany! Que este é apenas um pequeno pedaço da sua jornada!

- Como assim? Estou confusa agora, não quero ir embora daqui! Por favor, não!

- Você poderá visitar sempre que quiser e levará com você todos os ensinamentos que teve aqui tão intensamente. Você lembra quando chegou e havia aquela névoa escura? Muitos nem atravessam aquela parte, ficam perdidos para sempre em seus medos e ressentidos com o que chamam de fracasso.

- Nossa, então como eu consegui tão rápido?

- Eu estou com você o tempo todo! Mas nem sempre posso aparecer, você precisa atravessar certas tempestades sozinha... E você conseguiu. Só é possível conhecer as benesses de Veritas, quando atravessamos os medos do fracasso, das emoções e de quem realmente somos.

  - Mas então essa não é também uma dádiva? E os medos são nossas perdições?

- Também, tem muito mais coisas. Você acessou uma parte, o grande medo da Ilha de Vanitas é o medo do fracasso, de não ser um sucesso! Mas quando atravessam esses medos, entram em contato com a verdade interior, quem são e com a paz. Isso é ótimo! Mas precisamos ir além, até mesmo disso...

- Devo confessar que quando você apareceu foi fácil abandonar tudo, talvez nunca houvesse me sentido eu mesma. Aqui é diferente!

- Como eu disse, você vai levar Veritas com você o tempo todo. Peço que confie em mim, um dia você vai entender. Com esse aprendizado em seu coração, você vai conseguir realizar as missões que tenho para você...

- Eu cheguei aqui querendo fugir e agora ficarei com saudades!

- Leve com você! Agora sim, vamos conhecer algumas dádivas e perdições da Ilha de Vanitas, antes de seguirmos para as outras ilhas...

- As outras ilhas? O que farei nelas?

- Uma coisa de cada vez...

 

Próximo: Conto 04 – Dádivas e Perdições da Ilha de Vanitas Siga @flavia_entreauroras

 

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Este trabalho é de autoria de Flávia Adriana

 Nenhum tipo de inteligência artificial (IA) foi utilizada na criação deste texto.

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